quarta-feira, 6 de março de 2013

Competência (Ou: A culpa é de quem?)

Atendia pelo apelido de Neco. O nome era Manoel. Virou Maneco. Aos 20, era Neco.
Tinha pouca coisa na vida porque acostumara-se a essa diminuição.
Culpa da mãe. Era ela a causadora de tudo, visto que ia chamando o filho por nomes cada vez menores.
Se, ao contrário, aumentasse seus apelidos, gritasse por ele usando superlativos, colocasse seu nome em frases bem longas, usando proparoxítonas, acentuando tudo com empenho e consideração...
Mas, os acentos também quase estão em desuso. Fora de moda. Ideia, que era uma palavra tão certa para se botar um acento, já nem se acentua mais. Se ideia caiu, que dirá as outras tantas palavras que nem tanta importância tem?
Caiu Maneco, também. Caiu Manoel, Manoelzinho, Manequinho. Ficou Neco. E, para desespero do moço, ouvira, outro dia, a mãe, bem baixinho, chamando: Ne, vem jantar, Ne.
Era necessário sair daquilo. Tomar força. Crescer no nome e na vida.
Arrumou um emprego. E como, ao contrário de sua teoria, era sua incompetência, a razão do seu fracasso, foi, dia a dia, fazendo bobagens sem fim atuando como ajudante dentro de uma empresa de etiquetas.
O chefe dava berros constantes. Mas seu auge ali dentro foi quando, ao ser chamado a sala da gerência, ouviu:

Seu energúmeno inútil débil estúpido, veja se trabalha direito!!!!!

Neco encheu o peito. Puxa. Energúmeno? Palavra boa. E os acentos todos?
Agora, sim! Agora, sim, senhor! A vida ia dar certo!