terça-feira, 23 de abril de 2013

Noticiário

E era a vida frágil. E era o ar árido. E era o despeito em forma de tédio.
E era a angústia salafrária. E era a tristeza disfarçada. E era a tormenta suja.

E já não é mais. Já não cobre mais de pólvora a mão dura.
E já não empunha mais a arma fria.
Era bandido. Agora, morto. Semi morto. Agonizante.

Um celular, uma vida.
Uma mochila, um destempero, uma sacada para jogar filhos.
Bandidos. Todos nascidos de ventre. Todos.
Cada qual parido. Desejado? Odiado? Deixado? Amado?
Bandido. Que mata filho dos outros, que mata seus próprios filhos.
Bandido.
Que rouba dinheiro vestindo bermuda, vestindo terno e gravata. Atrás das mesas.
Dentro de igrejas. Em buracos de fumo. Que mata freiras, ativistas, putas, mães.
Que explode pessoas, que mutila.
Bandido. Mesmo tipo. Mesma culpa.
Todos da mesma raça. A raça humana. Essa raça que se define em categorias.
Em clãs. Em divisões de status. Que julga o credo, o sexo, a dor, a cara.
Raça. Raça. Humana. Desumana.
Como criaremos novas crianças? Como educaremos quem mora dentro de casa?
Talvez, matando o bandido que existe dentro de cada um?
Aquele que, vez ou outra, sussurra barbaridades em nossos ouvidos.
Aquele que diz que somos melhores. Que somos mais puros.
Talvez, só talvez, o mundo que vive fora de nós seja mais suportável,
quando o mundo que vive em nossas tripas, for mais doce.

E vamos viver.
Até porque,  a vida exige coragem.