segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O sexo de cada um (Ou: Sorveteria) (Ou: Comer faz bem)

Era imensa.
290kg.
Sobrava em todos os lugares, e seus pés minúsculos mal podiam com ela.
As mãos, também incrivelmente pequenas, acompanhavam toda a falta de proporção.
Menor que os membros, somente o marido. Franzino, levemente cabisbaixo, submisso diante daquele tamanho de mulher com a qual casara.
Entraram na sorveteria. Ela, como sempre, a frente. Decidida. Olhos firmes de quem sabe exatamente o que quer. Logo sentou-se ao lado de um casal. Antes, tirou a bolsa da outra moça que ali repousava.
Essa bolsa é sua? Perguntou em tom de crítica.
A vizinha sorriu, tirou a bolsa da cadeira, e deu espaço para a outra sentar-se.
O marido veio em seguida. Encontrou a mulher aflita, a espera de sua taça gigante. Pedi um dos bons. Disse a esposa. E completou para que todos ouvissem: Não quero nada diet, hein? Garçonete? Olha, não me traga nada diet.
A pobre atendente, arregalou os olhos e disse: Jamais. Não, senhora. Vai vir tudo como o pedido.
Assim que chegou a taça, a macro mulher devorou em segundos em colheradas avassaladoras. O marido, cúmplice daquela orgia, dizia:
Veja, benzinho, como aqui que está escorrendo. Veja, aqui tem mais um pouco.
Ela lambia a taça, a colher, os beiços.
Acabou de devorar tudo no momento exato em que chegava a taça do marido.
Ele, educadamente, ofereceu a sua mulher uma provada daquela maravilha.
Ela negou, porém, prontamente, com outra colher em punhos foi cavocando a sobremesa do parceiro. E ia dando sua ordens. Voz forte:
Fulano, coma essa fruta que está embaixo. Coma. Coma esse creme. Não quer mais? Coma tudo. Olha este pedaço, que beleza.
O marido não respondia. Apenas tentava salvar uma parte ou outra, já na certeza de que não sobraria nada para ele. A mulher mandava que ele comesse, mas atacava tudo sem deixar espaço para a colher dele.
Que lástima, ele pensou. Mesmo assim, ao final, esticou as mãos para ela. Esgotados. Cada um faz sexo como sabe. Essa era a verdade.
Ficaram ali, dedos entrelaçados. Acenderiam um cigarro, se fosse permitido.
O marido foi pagar a conta e disse: Vou buscar o carro, já venho.
Demorou. Segurando no volante, respirou fundo. Cúmplice. Macho.
Parou o carro frente a porta; a mulher já tinha se arrastado até a calçada.
Foram embora. Ele decidido a tomar uma ducha, ela decidida a parar na padaria.

Um comentário:

  1. Triste,triste mesmo... Como se afogar na taça de sorvete a tornasse mais forte...A taça ,a opulência e o desespero por dar cabo daquilo tudo ,apenas mascara os sentimentos dela...A atitude firme ,determinada são subterfugios para não demonstrar o qto ela se acha pequena...Como apesar do corpazil ,se sente um nada...
    E o marido apesar da aparente fragilidade,consegue ver a verdadeira pessoa que se esconde por tras daquela capa de gordura...
    Ah o amor ,tão particular e cheio de nuances...Quem sabe ela não proporciona pra ele 50 tons...Só eles sabem...

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