terça-feira, 12 de agosto de 2014

Estação

Decidiu-se pelo desapego.
Tal decisão exige, no fundo, dedicação.
Pensou consigo: é preciso consciência.
E conscientizou-se.

Partiu para o desapego.
Tal decisão exige, no fundo, coragem.
Pensou consigo: é preciso utopia.
E sonhou em larga escala.

Chegou ao desapego.
Tal decisão exige, no fundo, frieza.
Pensou consigo: é preciso liberdade.
E percebeu-se escravo.

Não poderia ir a lugar algum sem toda a bagagem.
Por isso, pegou todas as malas, colocou-as em um vagão e disse: vão.
O desapego que podia exercer não era sobre si e sim sobre o outro.
Mas não ficou na estação. Voltou para casa. A pé.

Tinha feito o que podia. Libertou seus pertences por crer que não eram dele.
Disse aos seus: vão embora. Não precisam mais de minha rota. Me custa muito dizer que preciso.
E os seus partiram, também.
Olhou-se no espelho e viu-se só.
Mas a solidão poética dos que devem viver só.
E escreveu. Escreveu um texto velho, bem velho.
Leu e disse: Era a razão um algoz muito severo. Viva eu, agora, a fluidez.



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