sábado, 21 de março de 2015

Dois reizinhos (Ou: A Capa rota) (Ou: Descobertos)

Eram dois reizinhos gêmeos que, de mãos dadas, ficavam a julgar o povo que por eles passava.
Credo, credo, diziam eles. Nem por mil moedas queria este ninguém a morar em nosso reino.
Credo, credo, diziam eles. Nem por mil cavalos queria este alguém, que de nada serve, a nos servir em nosso reino.
Credo, credo, diziam eles. Credo, credo.
Os reizinhos gêmeos ficavam a torcer a cara. Desviavam o olhar com desdém e nojo.
Vez ou outra, vinha um desavisado e lhes estendia a mão.
Viravam as faces, os pobres monarcas, e , torcendo ainda mais o próprio bico, deixavam a mão mal estendida para que o outro se curvasse.
Mal sabiam eles, os pobres monarcas de capas rubras, que o reino que julgavam ter, não existia. Que talvez não todos os passantes, mas, os melhores sabiam que estavam nus em seus tronos de mentirinha.
Mal sabidos reis gêmeos. De mãos dadas iam tomando um rumo feio na vida. Onde a solidão habita o íntimo e a amargura domina o coração. E, ao viverem na escassez da razão, na doutrina do mal amor, deixavam passar por eles gente de verdade, almas de verdade, reis de verdade.
Dois reizinhos bobos, da cara retorcida, enxergavam tão somente o ego que dormiam em ruínas.
Dois reizinhos tolos, da capa rubra e rota, mal sabiam eles que sua nudez já estava descoberta.

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