quinta-feira, 19 de abril de 2012

O fio


De alguma forma, a gente sabe!
Dentre tantas sombras que encapam os nossos “ais”,
Dentre os desejos e desistências aos quais nos submetemos,
Dentre todas as razões e vontades, de alguma forma, a gente sabe.
Conhece o que o coração mais almeja, e o que a alma tanto teme, 
no mais profundo dos sonhos.
Caminha sempre na direção desse saber, mesmo que escolha caminhos tão complexos 
e distantes das margens mais seguras.
No fundo, no fundo, a gente sabe quando se perdeu, quando se achou, 
quando amou de verdade, quando, simplesmente, morreu.
Dentro do peito moram angustias. E a gente conhece cada uma pelo nome que a gente mesmo deu. São meninas más que atormentam nossas fomes.
E, na vida, a gente dorme, come, sofre, ri, desfalece, enriquece, se leva, se deixa levar, corre, para,pari, mata, morre, xinga, consome, alimenta, aleita, amorna, acorda, rompe, casa, ama, odeia, amiga, assina, separa, arruma, desordena...
E sabe.
E, sempre sabe, o que os outros não sabem. Porque cada um sabe, o que sabe de si.
 Só de si. E cada um com o seu si. Com o seu “ai”.
É sempre um saber. E um fugir. E um encontrar.
E parece — para mim, parece —, que quando a gente se encontra de verdade, 
quando, finalmente, se deixa descansar nesse saber que sempre nos alertou por onde ir, quando a gente encontra essa vontade, e dá as mãos para ela 
e diz: Cheguei, porque não consigo mais partir. 
Então, parece, a mim, me parece, que são os outros que nos estranham. 
E, nos estranhando, não nos reconhecem. E, não nos reconhecendo, nos deixam. 
E, nos deixando, nos jogam para mais perto de nós mesmos. 
E assim, conseguimos ser o que sempre soubemos.
 E nos reconhecemos, e voltamos para dentro daquele fio que sempre nos ligou ao nosso centro.
De alguma forma, a gente sabe.
Eu sei.
E os outros não me reconhecem.

Mas, eu mesma, nunca me fui tão familiar.

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