Deixa disso. O amor é maior
que o rito.
Deixa de cara, de para, de
manha. Amor é tara, é fala, é gana.
Deixa de onda, de cores
confusas, de saudades obtusas.
Deixa de vir e ir e ficar
onde não estou.
Ame só o amor, ame só meus
olhos e meus traços.
Engana-se quem vive na
amargura dos retratos
Dos sonos antigos, das
sujeiras nos pratos.
Deixa disso. Vem ser
infinito.
Vem casar num horizonte
traçado nas minhas costas nuas.
Vem dormir onde não se dorme
Em montanhas e vales e
planícies artificiais.
Vem dourar. Deixa disso.
Vem ser uma canção
transpirando nos meus ouvidos.
Deixa disso, vai?
Vem ser o amor. Só isso.
Vem experimentar, deixar de ser siso.
Quem não viveu dentro de
alguém, não sabe o que é a urgência da vida.
Viver dentro e morrer, um
pouco, fora. Explorar e urgir por horas.
Vez ou outra, tomando água.
Deixa disso porque eu não vou
embora.
Deixa disso porque minhas
malas estão aqui, ainda
Fica vai? Fica porque as
minhas roupas ainda secam nas suas, e
O mundo, o tudo, o de mais
puro e o de mais sujo ainda precisam de nós.
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