segunda-feira, 14 de maio de 2012

Deixa


Deixa disso. O amor é maior que o rito.
Deixa de cara, de para, de manha. Amor é tara, é fala, é gana.
Deixa de onda, de cores confusas, de saudades obtusas.
Deixa de vir e ir e ficar onde não estou.
Ame só o amor, ame só meus olhos e meus traços.
Engana-se quem vive na amargura dos retratos
Dos sonos antigos, das sujeiras nos pratos.
Deixa disso. Vem ser infinito.
Vem casar num horizonte traçado nas minhas costas nuas.
Vem dormir onde não se dorme
Em montanhas e vales e planícies artificiais.
Vem dourar. Deixa disso.
Vem ser uma canção transpirando nos meus ouvidos.
Deixa disso, vai?
Vem ser o amor. Só isso.
Vem experimentar, deixar de ser siso.
Quem não viveu dentro de alguém, não sabe o que é a urgência da vida.
Viver dentro e morrer, um pouco, fora. Explorar e urgir por horas.
Vez ou outra, tomando água.
Deixa disso porque eu não vou embora.
Deixa disso porque minhas malas estão aqui, ainda
Fica vai? Fica porque as minhas roupas ainda secam nas suas, e
O mundo, o tudo, o de mais puro e o de mais sujo ainda precisam de nós.

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