Era quase naftalina.
Era
esse o cheiro dos seus escritos, das suas parlendas, dos seus enunciados. Uma
leve rouquidão onde já teve um grito.
Onde se escondiam, agora, as metáforas,
as rimas fáceis, os choros contidos em uma melodia repetida em versos, ou em
prosa, ou em conto ou em qualquer coisa que se mexa na boca? Na língua?
É
isso! Na língua que, viva dentro da boca, repetia palavras, muitas, amarradas
em dança solta, com véus, com guizos, com pequenos cordões enrolados num ditongo
ou num hiato.
Eram modelos, às vezes
repetidos, às vezes, uma vez usados, mas eram modelos...falhos, humanos,
crescentes, dourados.
Agora, era uma rampa que ia em mão única para beira de um
penhasco e cadê palavra, cadê história, cadê ofício, cadê dicionário. Era
assim? Era um capricho do cérebro? Alguma coisa se perdeu dentro das curvas e
ondas e neurônios e cabeleira e olha que nem era cachaça, nem era falta de uso
corriqueiro. Era só mesmo um afastamento da escrita, das teclas pretas e
brancas, do seu piano de gramática. Mas a leitura, que juram servir para a
não-morte do pensamento, esteve com ela sempre. E nada.
Dá uma vergonha ler coisa boa; dá um sentido de
escrita pessoal precipitada. Um amargo sentimento de total perda de tempo onde
o tempo pode até ser inventado.
Era essa a sorte da menina
que escrevia. Era o declínio do raciocínio, da linguagem, da matemática dos
versos, das contas, das notas, das ausências, das presenças de suas fugas.
Ela, a menina, vai dando
soquinhos de punho fechado e as coisas pulam sobre a mesa, e isso vai dando um
caldo, um passa tempo, um som surdo, um som tocado e então vem aquele estalo
que talvez a escrita não seja mesmo para ela, seja só por ela, seja para não
publicação e sim para auto construção e, então, tudo bem.
Ela fica catando umas
coisinhas sobre a cama e pensa em inúmeras rimas, constelações inteiras,
subúrbios de pensamentos e vê sua imagem no vidro da janela e ela está bem,
está justa, está séria, está decidida, está comedida, está uma colisão...Sai
correndo para pular a vida como se pula corda, e o cheiro de naftalina vai com
ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário