Ela vinha caminhando numa
longa, longa noite. E seu olhar tinha um nada, quase inteiro, a sombrear as
vistas. E os cílios, curtos, retos, estavam baixos não de tristeza, mas de
emoção.
Ela vinha caminhando numa
longa, longa noite. E suas mãos estavam abertas a procura de coisas para
tatear. Era em braile que ela aprendia. Mas não era cega. Via.
Ela vinha caminhando numa
longa, longa noite. E suas pernas iam fortes e musculosas. Não era ginástica.
Era de uso extremo em subidas íngremes.
Ela vinha caminhando numa
longa, longa, longa noite azul. Noite prenha de notícias. Noite parideira.
Ela vinha caminhando numa
longa, longa, longa noite carmim. Não era sangue.
Era fogo.
Ela vinha cambaleando numa
longa, longa noite sem fim. Mas não era eterno. Era medo.
Ela vinha cochilando numa
longa noite que acabaria ali. Mas não era fim. Era tá.
Ela vinha acesa em fogo
carmim, numa noite longa azul, com seus cílios curtos e baixos, e um nada, inteiro, nas pupilas limpas.
Ela vinha, então, agora,
nesse instante, bem acordada, reluzente porque aprendeu o que faltava, inteira
porque ela mesma consumiu seu nada,
caminhando duramente, seguramente nas estradas e calçadas.
Ela vinha feliz e perfumada,
sabiamente articulada, espertamente afastada do que não era seu.
Pegou o que era dela, aqueceu
o coração e as panturrilhas, subiu no monte mais alto e viu que era o monte
certo porque a vista era linda.
Ela voltou numa longa, longa
manhã, amando loucamente o que encontrou.
Ela voltou numa longa, longa
manhã. Eterna. Agora sim, eterna.
E nunca mais voltou para as
trilhas escuras de sua solidão.
Gostei muito de seu estilo. (Sou aluna da Malu Zoega e através dela vim conhecer teu espaço). Abraços!
ResponderExcluirOlá, conheço vc(de nome) lá do escritório da Malu. Seja bem vinda! Abraço
ResponderExcluir