─ Mario, você conversou com o Guilherme antes desse jogo?
─ Claro. Expliquei tudo.
─ Sei, não. Ele tá com cara de choro.
─ Claro! O técnico deixa o menino no banco!
─ O time é grande, Mario. O homem precisa fazer um rodízio
da meninada. Você sabe como são os pais. Um bando de loucos. Dificilmente
alguém é como nós. Lembra daquela vez que a mãe do Paulinho jogou uma lata de
refrigerante na cabeça do juiz?
─ O sem vergonha expulsou o filho dela, Mônica! Fez muito
bem. Eu também jogaria.
─ Como assim? O menino deu um golpe de judô no outro do
mesmo time. Justo aquele que era asmático.
─ Mônica, isso aqui é futebol, minha filha. Não é balé, não.
Que bom que deu o golpe. Além de bom no futebol, ele é ótimo em luta. Parabéns pra
mãe dele que está criando bem o menino. Eu jogaria a lata também
─ A lata estava cheia, Mário. O pobre do juiz foi
hospitalizado. Dizem que saiu do campo completamente fora de órbita. A Soninha
me disse que, enquanto colocavam o homem na maca, ele cantava a música da
Wanderléa. Sabe aquela? Achei o fim. A gente tem que saber separar as coisas.
Eu sei muito bem que isso aqui é só um jogo de crianças. Quero que o Guilherme
saiba que a mãe dele, pelo menos, tem maturidade.
─ Olha, lá, Mônica, vão colocar o Guilherme.
─ Ai, meu Deus. Vai filho! Corre! Vai! Pega a bola, pega a
bola! Dribla, Gui. Dribla! Boa, filho. Não chora, Guilherme. Valeu, filho!!!!
─ Para de gritar, Monica. Tá atrapalhando o garoto.
─ Sou mãe, Mario. Se eu não der força pro menino, ele cresce
com baixa auto-estima. Olha lá! Aquele grandão tá perseguindo o Gui. Chuta ele,
Gui. Mamãe tá aqui. Não chora, filho. Não chora!
─ Para, Monica. Você vai arrumar confusão.
─ Não paro, não. Grito mesmo. Vai Gui. Você tá indo muito
bem, filho. Você é melhor que todos eles, meu amor. Eles, perto de você, são uns
frouxos, meu bem.
As outras mães que, até então, estavam quietas, olharam para
Monica com o olhar que só quem já viu uma mãe ofendida conhece. É um olhar que
varia entre a fúria de um neanderthal, e a cara de uma hiena selvagem e
enlouquecida. Para saber bem que tipo de olhar é, basta chegar perto de uma mãe
e dizer: Meu filho é melhor que o seu. Ela pode ser a Indira Ghandi. Pode
ser pós- graduada em
meditação. Pode estar até em coma. Veja se ela não
arregaçará os dentes. Veja se ela não pegará uma lata de refrigerante cheia
para tacar em você.
Mas, já era tarde para qualquer volta. Mário até pensou em puxar Monica , mas uma
manada de mulheres já estava vindo na direção dela.
─ Corre, Monica! Corre!
Deu tempo do juiz - o mesmo- traumatizado, esconder-se atrás
do bandeirinha.
Tudo isso já tem um mês. As aulas de futebol estão
suspensas. Mônica recupera-se bem. Os médicos estão bem esperançosos. Mario tem
treinado Guilherme no quintal de casa. E entre um drible e outro tem ensinado ao
menino uns golpes de judô. Nunca se sabe...
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