segunda-feira, 7 de maio de 2012

Treino de crianças


Mario, você conversou com o Guilherme antes desse jogo?
─ Claro. Expliquei tudo. 
─ Sei, não. Ele tá com cara de choro.
─ Claro! O técnico deixa o menino no banco!
─ O time é grande, Mario. O homem precisa fazer um rodízio da meninada. Você sabe como são os pais. Um bando de loucos. Dificilmente alguém é como nós. Lembra daquela vez que a mãe do Paulinho jogou uma lata de refrigerante na cabeça do juiz?
─ O sem vergonha expulsou o filho dela, Mônica! Fez muito bem. Eu também jogaria.
─ Como assim? O menino deu um golpe de judô no outro do mesmo time. Justo aquele que era asmático.
─ Mônica, isso aqui é futebol, minha filha. Não é balé, não. Que bom que deu o golpe. Além de bom no futebol, ele é ótimo em luta. Parabéns pra mãe dele que está criando bem o menino. Eu jogaria a lata também
─ A lata estava cheia, Mário. O pobre do juiz foi hospitalizado. Dizem que saiu do campo completamente fora de órbita. A Soninha me disse que, enquanto colocavam o homem na maca, ele cantava a música da Wanderléa. Sabe aquela? Achei o fim. A gente tem que saber separar as coisas. Eu sei muito bem que isso aqui é só um jogo de crianças. Quero que o Guilherme saiba que a mãe dele, pelo menos, tem maturidade.


─ Olha, lá, Mônica, vão colocar o Guilherme.
─ Ai, meu Deus. Vai filho! Corre! Vai! Pega a bola, pega a bola! Dribla, Gui. Dribla! Boa, filho. Não chora, Guilherme. Valeu, filho!!!!
─ Para de gritar, Monica. Tá atrapalhando o garoto.
─ Sou mãe, Mario. Se eu não der força pro menino, ele cresce com baixa auto-estima. Olha lá! Aquele grandão tá perseguindo o Gui. Chuta ele, Gui. Mamãe tá aqui. Não chora, filho. Não chora!
─ Para, Monica. Você vai arrumar confusão.
─ Não paro, não. Grito mesmo. Vai Gui. Você tá indo muito bem, filho. Você é melhor que todos eles, meu amor. Eles, perto de você, são uns frouxos, meu bem.

As outras mães que, até então, estavam quietas, olharam para Monica com o olhar que só quem já viu uma mãe ofendida conhece. É um olhar que varia entre a fúria de um neanderthal, e a cara de uma hiena selvagem e enlouquecida. Para saber bem que tipo de olhar é, basta chegar perto de uma mãe e dizer: Meu filho é melhor que o seu. Ela pode ser a Indira Ghandi. Pode ser pós- graduada em meditação. Pode estar até em coma. Veja se ela não arregaçará os dentes. Veja se ela não pegará uma lata de refrigerante cheia para tacar em você.

Mas, já era tarde para qualquer volta. Mário até pensou em puxar Monica, mas uma manada de mulheres já estava vindo na direção dela.
─ Corre, Monica! Corre!

Deu tempo do juiz - o mesmo- traumatizado, esconder-se atrás do bandeirinha.

Tudo isso já tem um mês. As aulas de futebol estão suspensas. Mônica recupera-se bem. Os médicos estão bem esperançosos. Mario tem treinado Guilherme no quintal de casa. E entre um drible e outro tem ensinado ao menino uns golpes de judô. Nunca se sabe...

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