— Zeca, o Patrick expeliu uma pedra de dentro no nariz.
— Expeliu o que?
— Uma pedra, Zeca.
— Uma pedra, como, Lucia? Tipo...igual um cálculo renal? Uma
pedra na vesícula? Tem isso no nariz, também?
— Não, Zeca. O menino pegou a pedra no jardim, achou fofa,
enfiou no nariz e, hoje, expeliu enquanto eu dava banho nele.
— Quando eu falo que nossos filhos fazem coisas estranhas,
você briga comigo.
— Para de falar que os meninos fazem coisas esquisitas que
eles ouvem, acreditam e viram adultos estranhos.
— Igual sua tia Zuleica, né, Lucia?
— Tava demorando para a tia Zuleica entrar na conversa.
— Eu me preocupo, Lucia. Os meninos podem ter herdado os
genes esquisitos da tia Zuleica. Vai me dizer que é normal o que ela faz?
— Pela milésima vez: a tia Zuza não é esquisita, ela só tem
uma profissão um pouco incomum para uma mulher da idade dela.
— Lucia, acorda! A velha faz striptease no baile da saudade.
— Não, não, Zeca. Ela faz dança erótico-artística para
senhores da terceira idade.
— Lucia, ela é uma velha de 86 anos que fica pelada para
velhos de 95.
— Ela já passou por muita coisa, Zeca. Dá um desconto.
— Muita coisa. Muita coisa mesmo. Aliás, ela já passou na mão
de muita gente, também, né, Lu? Ou você já esqueceu do Didi? Do seu Aderbal da
farmácia? Do Helinho da lotérica? E o Jorge! O Jorge, sim. O menino ia fazer 19
anos. Teve até aquele episódio envolvendo o fusca do pai do Jorge e a cueca
presa na perereca.
— Que história é essa Zeca?
— Tá vendo? Você vive defendendo a tia Zuleica. Acha a velha
uma inocente envolvida nos laços podres do sistema, e nem sabe da missa a
metade.
— Eu só sou justa. Nunca defendo a tia Zuleica. Só tento
entender as atitudes dela. Mas que história é essa do fusca?
— Antes que você fale qualquer coisa, foi seu pai que me
contou. Foi assim: a tia Zuleica chamou o Jorge para ir dar uma volta de carro.
Ela não tem mais carta, afinal o descaso com a segurança de trânsito não vai
tão longe e tiraram a carta da velha. O Jorge, para fazer bonito, pegou o fusca
do pai, e pegou a tia Zuza na saída do, digamos...trabalho. Sabe-se lá o que
foram fazer. O fato é que a tia Zuleica teve uma câimbra e o garoto se
assustou, tentou chamar ajuda e acabou todo mundo parar na delegacia com a tia
Zuza com a cueca presa na perereca. Seu pai que teve que ir lá pagar fiança.
— Gente! Como assim, na perereca? Você quer dizer na...
— Não, Lucia! Na perereca da boca. Na prótese da tia
Zulmira.
— Ai, Zeca, que susto. E eu achando que dessa vez a tia Zuza
tinha aprontado pra valer.
Tuty, gostei demais da tia Zuleica. Texto fantástico. O diálogo é delicioso. E construído com muita ironia. Muito bom! Beijos
ResponderExcluirBeijos, Querida. Obrigada!
ResponderExcluir