Pegou Baudelaire e se
assustou.
Beijou Machado e derreteu. Quis Kafka e gelou. Engoliu João e
empalideceu.
Era um alimentar de coisas
estranhas, um saboreamento de construções novas.
Era o exílio do que cria, era
o decidir pelo afogamento.
Ele escrevia na latrina, no
difícil, na imundice; tinha um assopramento de angústia,
de calúnia que
expiravam no seu peito.
Catavento, catalouco, catanicho, catalouça, tiragosto,
tira tento, sem juízo e sem dinheiro.
Era só, era fingimento, era um oficial de
causas mortas, era leitor de inúmeras portas. Portas que abriam para si e
outras que fechavam seus anseios.
Era tido como não era, era sua própria forma
e sua própria ausência.
Os livros, a estante toda,
ventavam sobre ele e o Poeta se deixava ir pelos sopros, pelo ares, pelos
coros, pelos mares...Ia sem vela, ia abraçado ao mastro, absorto, livre,
caducando malandrices, desafinos, desafetos. E o verso nascia no cérebro ou na
tripa e descia como caxumba deixando o poeta estéril para todo o resto. Pensava
em prosa, escrevia em rima, vivia aéreo, cheirava ópio. Era na execução dos
fatos que ressurgia, era na badalada que fazia 12 horas. Era uma produção, ora
brusca ora metafórica, e ao mesmo tempo era um crédulo, era um bicho, um siso,
um doente, mas só por fora.
Ele era a foice que,
reluzente, ceifava sua vida e limpava sua cara.
Era um remédio para sua
podridão, a podridão da rima, porque no resto era tara.
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